Mar Português
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma nao é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
De: Fernando Pessoa
O Mar Agita-se, como um Alucinado
O Mar agita-se, como um alucinado: A sua espuma aflui, baba da sua Dor... Posto o escafandro, com um passo cadenciado, Desce ao fundo do Oceano algum mergulhador.
Dá-lhe um aspecto estranho a campânula imensa: Lembra um bizarro Deus de algum pagode indiano: Na cólera do Mar, pesa a sua Indiferença Que o torna superior, e faz mesquinho o Oceano!
E em vão as ondas se lhe enroscam à cabeça: Ele desce orgulhoso, impassível, sem pressa, Com suprema altivez, com ironias calmas:
Assim devemos nós, Poetas, no Mundo entrar, Sem nos deixarmos absorver por esse Mar — Pois a Arte é, para nós, o escafandro das
De: Alberto de Oliveira, in "Bíblia do Sonho"
Provérbios
Todas as ruas vão dar ao mar
O mar que é mar, não está sempre cheio
Quem vai para o mar aparelha-se em terra
Quem o mar gaba, não tem visto a praia
Já no mar, já na terra
Nem todo o mar é água
À boca da barra se perde (perde-se) o navio
A gota e gota, o mar se esgota
A maré enche a vaza
Jornada de mar não se pode taxar
Não há mar bravo que não amanse
Não se afoga no mar o que lá não quer entrar
Nem com o mar contar, nem a muitos fiar
Nem em mar tratar, nem em muitos fiar
Nem sempre o mar está de lapas
O mar aproxima as regiões que ele separa
O mar em um momento se muda
O mar não escalda ninguém
Quem anda no mar aprende a rezar
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